Eu via - Aisha Huri

Ao olhar pela minha janela
Muitas coisas via,
Via a vizinha que vinha,
Via o amigo acenando na direção minha.

Com olhos esbugalhados,
Via além daquilo que via,
Via gente que pensava ser certa,
Via gente que negava ser errada.

Conseguia ver ainda mais,
Via o pássaro que cantava alegre,
Via a criança brincar serelepe,
E vendo mais ainda,

Via o velho fazendo careta,
Via o casulo virar borboleta,
Via a nuvem formando trombeta.
Como se não bastasse,

Via o sol brilhando forte,
Via a mãe ralhando com a arte,
Via o choro de quem parte,
Incansavelmente atenta via,

Via a tristeza do infeliz desempregado,
Via a alegria do sortudo contemplado,
Via o sobrado alugado,
Via o barraco inundado.

Tudo dali do retângulo via,
Via o mundo que se movia,
Via a gente que se debatia,

Via o inseto que respirava o dia.
E quando não me faltava nada,
Via o menino enxugando o pranto,

Via a mãe raspando o prato,
Via o pai desesperado,
Ao olhar pela minha janela.

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